A DELAÇÃO DA ODEBRECHT – O RAGNAROK

Grecianny Cordeiro

Na mitologia nórdica, o Ragnarök ou a Batalha Final, seria uma luta intensa e terrível travada entre os deuses e os gigantes, que resultaria no fim do mundo, com a morte de vários deuses, dentre eles Odin, Thor e Loki.
Com o crepúsculo dos deuses, o mundo passaria por catástrofes naturais, o sol e a lua escureceriam, as estrelas desapareceriam do firmamento, um grande terremoto abalaria a terra, que submergiria na água.
Seriam tempos difíceis, com a destruição dos nove mundos de Yggdrasil, a árvore sagrada que sustentava o céu e a terra. Ao Ragnarök sobreviverá apenas um casal de humanos, responsável por repovoar a terra, Midgard.
Poderíamos fazer uma analogia do Ragnarök com a Delação da Odebrecht, considerada a delação do fim do mundo, em que a família Odrebrecht e seus executivos revelarão, nos autos do processo da operação Lava Jato, os escuros e intrincados caminhos da corrupção no país, trilhado por políticos, empresários, lobistas, doleiros, responsável pelo saque aos cofres públicos mais violento já ocorrido no Brasil – pelo menos, que se tenha notícia -.
O Ragnarök brasileiro, infelizmente, não é mitológico, é real, claro como a luz do sol. Quisera fosse pura e simples mitologia.
Embora denominada de “delação do fim do mundo”, não ocorrerá a destruição do mundo político, mas apenas um rumoroso escândalo, a ser esquecido nas próximas eleições, porque a memória de nosso povo é fraca. Não será dito nada além do que é sabido, mas agora as máscaras cairão.
O Ragnarök brasileiro durará o suficiente para que o Congresso Nacional se reúna e faça passar, na surdina, a lei das Dez Medidas contra a Corrupção, apenas na parte que lhes convém, notadamente no que pertine à chamada “anistia do caixa 2” e de todos os crimes correlatos, como lavagem de dinheiro, corrupção, evasão de divisas, etc.
O Congresso Nacional dará um jeito de sobreviver ao Ragnarök, editando uma lei estapafúrdia capaz de lhe favorecer e de livrar seus membros das garras da temida Lava Jato e, como num castelo de cartas, os corruptos sobreviverão intactos, rindo e galhofando de nossa inocência.
O Ragnarök brasileiro será a batalha final do povo, a luta pela sobrevivência do cidadão que paga os impostos, do servidor que contribui a vida inteira para uma previdência que nunca desfrutará como deveria, do empresário, do trabalhador, do estudante…
O crepúsculo dos deuses se transformará na alvorada dos demônios.
Grecianny Carvalho Cordeiro
Promotora de Justiça

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