DEMÉTER – A mãe que nunca desiste

Grecianny Cordeiro

Deméter era a deusa da agricultura, da fertilidade, da colheita.
De sua união com Zeus, nasceu a filha Perséfone.
Perséfone crescia feliz entre as ninfas e, certo dia, no momento em que se abaixava para colher um narciso, fora vista por Hades, o poderoso e temível deus do submundo, que por ela se apaixonou perdidamente.
Hades não hesitou e raptou Perséfone, levando-a consigo em direção ao Submundo, em sua quadriga de ouro puxada por corcéis imortais.
Apavorada, Perséfone gritou desesperada, sendo ouvida pela mãe.
Mas Deméter não tinha a menor ideia do que acontecera à filha, exceto que sumira sem deixar vestígios. Com o coração pesado pela angústia, Deméter saiu pelo mundo em busca de Perséfone, com um archote na mão. Tomada pela dor, ela não se alimentou e nada bebeu por nove dias. Infiltrada no meio dos mortais, na esperança de achar a filha, sequer fora reconhecida como deusa, diante de sua aparência desleixada.
O Sol, que a tudo via, se compadeceu diante do sofrimento de Deméter e contou-lhe a verdade.
Deméter foi tomada pela fúria e decidiu que não cumpriria com suas funções divinais enquanto Perséfone não lhe fosse devolvida. Assim, a terra ficou estéril, os campos murcharam, as colheitas se perderam. A fome tomou conta do planeta. A ordem do mundo foi perturbada e Zeus, preocupado, resolveu intervir.
Zeus determinou que Hermes, o deus mensageiro, descesse ao Submundo e convencesse Hades a enviar Perséfone de volta à luz.
Hades consentiu com o pedido do irmão, garantindo que, se Perséfone retornasse, reinaria ao seu lado no mundo dos mortos. Perséfone ficou radiante ao saber que reencontraria a amada mãe. Aproveitando-se disso, sutilmente, Hades fez com que Perséfone comesse uma semente de romã.
O encontro entre Deméter e Perséfone foi pleno de felicidade. E ao saber que a filha comera uma semente de romã, seu semblante se entristeceu, pois, dessa forma, Perséfone jamais poderia se desligar totalmente do Submundo.
Por fim, Deméter, Zeus e Hades entraram num acordo. Deméter voltaria ao Olimpo e garantiria a sobrevivência da humanidade. Enquanto isso, Perséfone dividiria seu tempo entre o mundo sombrio e o mundo dos vivos.
Durante dois terços do ano, Perséfone ficaria com a mãe. Nesse tempo, Deméter prepararia a terra e faria com que florescesse, num gesto de boas vindas à filha. Seria a primavera.
Durante um terço do ano, em que Perséfone ficaria no Submundo, separada da mãe, o solo ficaria estéril. Seria o inverno.
Deméter é a mãe que nunca desiste, a exemplo de tantas mães espalhadas pela vastidão do mundo.
A mãe, aquela que enfrenta a tudo, que resiste a tudo por amor aos filhos, quer tenham escolhido voluntariamente ou não o lado sombrio ou luminoso da vida.

Grecianny Carvalho Cordeiro

Promotora de Justiça e Escritora

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