QUANDO PERDEMOS A CAPACIDADE DE NOS INDIGNAR

Grecianny Cordeiro

O Brasil alcançou a cifra de mais de 2 mil mortos por dia, em razão do Covid 19!

E, pelo jeito, muitos perderam a capacidade de se indignar, de se espantar com essa cifra absurda.

No início da pandemia, em 2020, os números foram surgindo e foram crescendo, até atingirem índices estratosféricos… 100, 200, 10 mil, 200 mil pessoas que perderam suas vidas vitimadas por esse terrível e invisível vírus.

Mas a impressão que se tem é que o brasileiro já se acostumou com a escalada de mortes. E mesmo aqueles que já tiveram algum parente ou amigo hospitalizado ou morto pelo covid 19, se comportam como se nada estivesse acontecendo, como se tudo não passasse de um alarde da imprensa.

Enquanto isso, os estados da Federação enfrentam o caos da saúde pública; os hospitais privados estão à beira do colapso; pessoas morrem porque não conseguem vagas em hospitais; ambulâncias fazem fila aguardando o momento de desembarcar os pacientes; profissionais da saúde estão física e emocionalmente esgotados; famílias perdem seus parentes sem direito a um velório para prestar as últimas homenagens e receber o abraço solidário dos amigos; rigorosas medidas de isolamento social são decretadas, impondo o isolamento social como forma de tentar conter o avanço do vírus…

Enquanto isso, o brasileiro continua na mesma ladainha de um ano atrás: o vírus é invenção, a mídia alardeia e exagera, uso de máscara é bobagem, lockdown e medidas rigorosas de isolamento social é para os governadores receberem mais dinheiro, o Ministério da Saúde nada faz, o prefeito embolsou o dinheiro dos hospitais de campanha…

O fato é que, no Brasil, a pandemia nunca foi tratada como problema de saúde pública, com o devido rigor, cuidado e preocupação, mas sim, como uma questão meramente política, isso, por parte não somente das autoridades municipais, estaduais e federais, sobretudo, da sociedade brasileira.

A sociedade brasileira deixou de cobrar ações enérgicas por parte das autoridades públicas, focando sua atenção na crítica aos gestores públicos, de acordo com suas paixões e simpatias por determinado político ou partido.

E assim, o número de infectados e mortos foi sendo relegado a um segundo plano.

E assim, estamos perdendo nossa capacidade de nos indignar com a situação pandêmica em que vivemos e não temos a menor ideia de onde e quando vamos parar, ou controlar.

E assim, a vida do outro perdeu sua importância.

Grecianny Carvalho Cordeiro

Promotora de Justiça

 

 

 

 

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