“Tenho a dupla feição do mito Jano:/ olho o passado e miro algum futuro./ Num, certa glória; no outro, vejo um plano,/ culminado com o fim, que não descuro./ Devo-me preparar cada hora do ano,/ para a Deus encontrar longe do escuro./ Temo a abismo chegar torpe, vesano,/ mas quero sempre a Luz: tanto a procuro!/ À volta compartilho os fieis festejos,/ lembrados os meus caros circunstantes/ do que com eles passei no ontem feliz.” (Nos Oitenta e Quatro Anos de Idade).
Os trechos do poema acima são de autoria do Príncipe dos Poetas Cearenses, Linhares Filho, extraídos de seu recém-lançado livro, Cantos do Entardecer. No auge dos seus 84 anos, o poeta nos brinda com seu belo fazer poético, dotado de um encantador lirismo.
Linhares Filho é, decerto, o Príncipe dos Poetas Cearenses, eleito desde 2016, título antes conferido ao padre Antônio Tomás, Cruz Filho, Jáder de Carvalho e Artur Eduardo Benevides. Tal título se justifica pela qualidade e beleza de sua poesia, mas, para além disso, Linhares Filho é um príncipe em atitudes, sempre gentil, educado, e cordato. Um eterno apaixonado pela sua musa inspiradora: Mariazinha.
“Registrei o teu nome em nossa história/ e gravei nosso amor dentro do peito./ Os nossos bons momentos na memória/ guardo, e da vida o ideal temos refeito.”
Cantos do Entardecer é um livro em que o poeta mostra que sua poesia amanhece a cada dia, transbordante de emoção.
“O meu supremo Canto é o que se enche de Lua,/ para glorificar minha afeição à vida./ O que se constitui na extrema despedida,/ de tudo me despoja e é toda a alma nua.”
Diversos são os poemas que permeiam Cantos do Entardecer, dedicados a amigos, santas, religiosos, reflexões sobre fatos do cotidiano, àqueles que partiram… Com a marca registrada de Linhares Filho, que nos leva a uma leitura pausada, sem pressa, sem vontade de acabar, tomados pelo receio de que o encanto não seja desfeito.
“Identifico-me com esta hora/ do vespertino crepúsculo,/ em que a Terra toda ora/ e, em mim, vai-se abatendo cada músculo./ Horas das secretas despedidas,/ do vazio nas ruas e avenidas.”
Nas palavras do autor, a compreensão de sua estética “é a de que a poesia se caracteriza pelo belo, o comovente, o elevado e o criativo, adotando-se uma mundividência de conciliação entre o clássico e o moderno, com impregnação de um neorromantismo e um neossimbolismo.”
Assim é Cantos do Entardecer. Assim é a poesia de Linhares Filho.
Grecianny Carvalho Cordeiro
Promotora de Justiça