NADA SEI. CONFESSO.

Grecianny Cordeiro

Caro leitor,

Sirvo-me do presente para revelar que, somente essa semana, portanto, há sete exatos dias, ao ler algumas matérias de jornais e algumas postagens nas redes sociais, descobri que nada entendo de literatura, tampouco de música, História, política… Aliás, descobri que não entendo de absolutamente nada. Não que me considerasse expert nesses assuntos, mas por ser uma ávida leitora, acreditava possuir algum conhecimento. Ledo engano.

Sempre gostei do Chico Buarque. Adoro suas músicas cantadas em sua voz. Mesmo não sendo a melhor voz, sempre achei que somente ele imprime o devido sentimento às próprias composições, as quais considero magistrais. Enquanto escritor, gosto ainda mais do Chico Buarque, pois sua literatura é como uma letra de canção, quase podendo ser cantada.

Eis que Chico Buarque caiu em desgraça para muitos ao declarar sua opinião política. Desde então, tais pessoas dizem que suas canções são compradas e que enquanto escritor, pode ser comparado a Michael Jordan jogando futebol. E assim jogam pedra na maldita Geni, pois ela é feita pra apanhar, ela é boa de cuspir. 

Sempre gostei do Gilberto Gil. Muitas de suas músicas são puro poema. Gosto de sua voz e do ritmo de suas canções. Ao se engajar na política, para muitos daqueles que antes o admiravam, o superhomem perdeu toda sua glória e é defenestrado de todo jeito por ter ingressado na Academia Brasileira de Letras. 

Sempre gostei de História e aprendi que capitalismo, socialismo e comunismo tinham correlação com os meios de produção, a propriedade nas mãos da iniciativa privada ou da coletividade, além de algo relacionado à intervenção maior ou menor do Estado nas atividades econômicas. Agora, um comunista pode ser aquele que exige o cartão de vacinação para entrar em um restaurante ou aquele que é contra a liberação do porte de arma, ou aquele que entende que os índios devem ter suas terras demarcadas para se verem protegidos da ganância dos garimpeiros, ou ainda, aqueles que simplesmente almejam a redução de tanta desigualdade social. Por último, descobri que não se engajar na defesa da chamada linguagem neutra nada tem a ver com acreditar que se deve falar o idioma da forma correta, mas só indica o quando você é de direita, careta e misógino. 

Caro leitor,

Diante dessas revelações de que nada sei, fica a seu critério continuar a ler o que escrevo semanalmente para este jornal que me abriga há mais duas décadas.

Grecianny Carvalho Cordeiro

Promotora de Justiça

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