PEQUENAS CRÔNICAS VOADORAS

Grecianny Cordeiro

“Um dia frio, um bom lugar pra ler um livro”, como diz a letra da canção de Djavan, aproveitei um dia chuvoso de domingo para ler um livro que logo chamou a atenção pela beleza da capa, em cores leves e com uma pipa feita de recortes de jornal. Ao abri-lo, reparei na diagramação bem elaborada e com as ilustrações de Meg Banhos, que tudo têm a ver com o texto. E foi assim que me deixei envolver pelas 60 Pequenas Crônicas Voadoras de Marília Lovatel, publicado pelo Armazém da Cultura. O posfácio é do escritor Stênio Gardel.

Marília Lovatel faz o leitor se sentir leve e dar piruetas no ar ao ler seus textos, porque “quando uma crônica atinge seu ápice, ela nos ergue a cabeça pelo queixo. Lemos as cores, as formas, os movimentos, tendo os pés na terra e o céu como página.” Foi exatamente assim que me senti.

“Crônica, ave de papel. Pipa, crônica no papel. Papel, nave de crônica.”

No decorrer das páginas de Pequenas Crônicas Voadoras, a autora nos faz voar, descer próximo ao chão, sentir a brisa do vento, dar uma rasante e depois contemplar a leveza da trajetória de uma pipa por meio de crônicas que nos remetem às lembranças da infância, às travessuras de crianças, ao cheiro de bolo saindo do forno no dia de aniversário, ao machucado no joelho, ao bichinho de estimação…aos OVNIs e às estrelas, à máquina de escrever…

“Com quantas linhas se faz uma crônica? Basta uma linha para empinar uma pipa.”

Nas palavras do renomado professor Assis Brasil: “As crônicas, aqui, adquirem a força do arrebatamento existencial e nos mostram aquela alegria, graça e felicidade de que fala Clément Rosset, ou, ainda, a mesmíssima eternidade do instante, de Jorge Luis Borges. A autora poderia ter parado aí, que seria muito; mas, não satisfeita em refletir sobre o quotidiano, ela penetra em outros domínios, com humor e leveza.”

“Como se faz com todo cuidado a pipa que precisa voar”, Marília Lovatel assim tece suas pequenas crônicas gigantescas, cuidadosamente, delicadamente, para que elas voem, e voam, bem alto, muito muito alto.

E assim foi meu domingo, começou chuvoso, depois o céu ficou nublado e, enquanto lia Pequenas Crônicas Voadoras, o sol foi saindo; como num passe de mágica, o tempo mudou: “E tudo nascerá mais belo/ o verde faz do azul com amarelo/ o elo com todas as cores/ pra enfeitar amores gris.”

Parabéns à autora, pelo seu precioso livro e obrigada por me proporcionar uma leitura inesquecível.

 

Grecianny Carvalho Cordeiro

Promotora de Justiça

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *