A FILHA PRIMITIVA

Grecianny Cordeiro

Avó-mãe-filha. Uma espécie de Avohai feminino.

Maternidade. Ancestralidade. Violência contra a mulher. Angústia. Perdão. Reconciliação. Redenção. São esses os componentes do romance da premiada escritora cearense, Vanessa Passos, A Filha Primitiva. Livro intenso e pungente. Uma bela história com um final emocionante. Li de uma só vez. De um só fôlego. Sem querer parar. Precisava ir até o fim. Logo. O quanto antes.

As três personagens em torno do qual gravita o enredo, não possuem nome. Nem precisam. Elas poderiam ter qualquer nome, porque é a realidade de muitas mulheres e, por isso, podemos nos identificar com cada uma delas.

A revolta da mãe, ainda amamentando, com a filha lhe sugando “a mãe que não era”, cujo pai a abandonara tão logo soube que estava grávida. Uma filha que culpava a mãe por não querer revelar a identidade do próprio pai, mantendo um segredo que não tinha o direito de esconder.

“Se minha mãe tinha sido capaz de me enganar a vida inteira, me esconder um pai, mentir sobre meus avós, arrancar de mim as raízes, eu também era capaz de muito mais do que ela imaginava.”

Uma avó sofrida, vítima de violência, mas que amava a filha e, sobretudo, o fruto desta, a neta recém-nascida, em quem depositava as esperanças de uma vida melhor e mais justa. A avó queria ver a filha doutora. Não queria que fosse igual a ela, sem saber ler ou escrever, trabalhando em casa de família para prover o sustento.

A filha queria saber sua origem, a identidade de seu pai, para então poder preencher a árvore genealógica que um dia a professora da escola pedira. Porque todos queremos e precisamos saber de onde viemos. A filha que chantageava a mãe, por intermédio da própria filha, para arrancar-lhe a verdade. A avó calou o quanto pôde, porque a verdade implicava em reviver dores e momentos que queria enterrar para sempre.

A filha-mãe que descontava suas frustrações na infante, até o momento em que conseguia vê-la como motivo para escrever, passando “a aceitá-la por conta disso, desse desejo que chegava mais forte. Foi a primeira vez que pensei nela me dando algo, e não tirando tudo de mim.”

E a verdade veio. Dura e cruel. Com ela, a oportunidade de reconciliação. Avó-mãe-filha. Uma só. Ligadas entre si pelo fio da vida. Forjadas na dor e no amor. Talhadas para serem a fortaleza que é toda mulher.

A Filha Primitiva mostra que o amor sempre é capaz de vencer a dor, seja como for. É um livro, realmente, tocante.

Grecianny Carvalho Cordeiro

Promotora de Justiça e Escritora

 

 

 

 

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